Qualquer sujeito desavisado chegando
ao Canadá pela primeira vez, quando
botar o pé fora do corredor de desembarque no aeroporto Trudeau, pode até pensar que esqueceu de puxar a cordinha no lugar
certo e desceu na parada errada (o que me ocorreu no final de década passada,
era pra descer em Pato Branco e fui acordar em Palmas, PR). Isto pode ocorrer,
porque o camarada vai procurar pela exit
que existe em todos os aeroportos do mundo, até no aeroporto de Chapecó, mas
não aqui, em pleno Canadá, país anglófono! Sim, e Montréal ainda é a cidade mais canadense desta província, o
Québec.
A história é longa e fascinante (estou lendo
um livreto sobre o Québec), mas de forma resumida, pode-se dizer que os
ingleses chegaram aqui primeiro, lá por 1500, ficaram um ou dois janeiross, não
guentaram o repuxo do inverno e do minuano que desce da Groenlândia, e
levantaram acampamento. Algumas décadas mais tarde, os franceses chegaram, e
apesar da fama de afeminados, guentaram
o frio e se estabeleceram. Algumas décadas mais tarde os ingleses voltaram,
principalmente subindo de terras ianques, quando já se avizinhava a independência
estadounidense (já estamos em meados do século XVIII agora). Nesta época, uma
enxurada de ingleses súditos da rainha também subiram pra cá, pois não queriam deixar
de ser ingleses e se tornar estadounidenses. Daí o bicho pegou, e no final, os
ingleses ganharam as principais batalhas, em 1760 Montreal foi tomada pelos
ingleses, e no final das contas, sobrou
aos franceses, este pedaço de terra aqui, o famoso Québec, a maior província
canadense.
Bom, voltando ao sujeito perdido no
aeroporto, ele seguirá perdido e desorientado quando começar a andar pela
cidade. Praticamente nada aqui está escrito em inglês, seja em anúncios e
comércios privados, muito menos prédios públicos provincianos. Na verdade, no
Brasil tem mais anúncios em inglês do que aqui, tipo 50% off, festa open bar,
internet wireless, festa ladies first, sem contar as baladas top (!), se não tiver o nome em inglês,
não é top, haha, até os DJ (disk jockey, vulgos enfiadores de pen drive) são chamados de tops.
Experimente caminhar pela cidade,
exceto no centrão, bem no miolo, no resto quase só se houve o francês sendo
falado. No meu caso, que vivi no ano passado na parte inglesa do Canadá, a
minha primeira impressão de Canadá foi outra, então é raro não ter a sensação
de estar em outro país, pois a língua é
a maior identidade de um povo, e aqui o povo se identifica de outra forma. Ok,
mas grande parte (chuto aí uns 80%) do montrealenses falam inglês (bem ou tipo
eu, meia boca). Afinal, Montreal é uma metrópole, que recebe gente do mundo
todo, mendigo pede esmola em francês e daí você se acha malandro, e manda pra
ele: - Désolé, je ne parle pas français.
Daí o mendigo te pede esmola em inglês. Aí o safado sempre me ganha, eu me
obrigo a dar uns trocados, pô, o cara é melhor que eu e tá mendigando!!! Mas
nas cidades da grande Montreal, ou mesmo em Québec City, capital da província,
e outras cidades, quase ninguém fala inglês. Estive em outras cidades daqui, e
mesmo jovens, em restaurantes, bares, não sabem inglês, normalmente o atendente
sai procurando algum colega para te atender (isso se vc não falar francês,
obviamente, o que ainda é o meu caso, infelizmente). No ano passado, em Halifax
(parte inglesa) eu tinha colegas universitários que estavam de férias fazendo
aulas de inglês comigo, ou seja, aprendendo inglês junto com canadenses!
Bom, a sensação é de estar em outro país, no
meio de outro povo, com outra história, e quando na sua sala você liga a janela
para o mundo (como dizia Nelson Rodrigues), você assiste o mundo em francês,
mas mesmo assim, tudo isso continua sendo Canadá, menos para os quebequences, of course! Opa, digo, Bien sûr que non.